Strindbergman
Produção francesa, a peça “Strindbergman” estréia no Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto no dia 06 de janeiro de 2010
Interpretada por duas atrizes brasileiras, a produção francesa propõe o diálogo entre as obras de August Strindberg e Ingmar Bergman. Uma estranha relação de simbiose e manipulação toma forma entre duas mulheres. O espetáculo integra o Ano da França no Brasil
Estabelecer um diálogo entre a palavra e o silêncio. Uma personagem que não fala manipula outra que não consegue se calar. Esse é o mote da peça Strindbergman, que estréia no Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto no dia 06 de janeiro de 2010.
A produção francesa propõe o encontro entre a peça e o filme dos artistas suecos August Strindberg e Ingmar Bergman, respectivamente, A Mais Forte (1888) e Persona (1966). No palco estão a brasileira Nicole Cordery e a franco-brasileira Janaína Suaudeau, sob a direção da francesa Marie Dupleix. A atriz Clara Carvalho, integrante do Grupo Tapa, faz participação especial. O espetáculo integra o Ano da França no Brasil e fez parte do Festival Strindberg, realizado no VIGA Espaço Cênico (SP) em novembro e dezembro de 2009.
A ideia nasceu dos estudos da atriz Nicole Cordery, que defendeu sua dissertação na Sorbonne Nouvelle, em Paris, sobre a obra de August Strindberg (1849 – 1912). “A peça A Mais Forte, de 1888, inspirou o filme Persona, de 1966. Muitos outros textos e a autobiografia de Strindberg também conduziram Bergman a escrever e filmar roteiros”, explica Nicole.
“A peça de Strindberg que realmente dialoga com Persona é A Mais Forte, em que, além da questão formal, em que uma mulher fala o tempo todo, impulsionada pelo silêncio da outra, temos o cruzamento de elementos temáticos, como a maternidade, o mundo do teatro, o riso e a possessão de personalidade entre dois personagens”, completa.
A atriz, que fez parte do Grupo TAPA durante sete anos, conta que o projeto existe desde 2006. A partir de 2007, começou a produção em parceria com Janaína Suaudeau, uma das poucas atrizes estrangeiras a ter cursado o concorrido Conservatório Nacional de Paris, e o diretor Didier Moine, que faleceu no meio do processo. “A diretora Marie Dupleix, sócia e amiga de Didier, nos assumiu completamente em sua companhia, chamada Les Mistons, alguns meses depois da morte dele.”
O projeto faz parte das comemorações do Ano da França no Brasil, no recorte considerado como mostra paralela.
O Espetáculo
Na história, a atriz Elisabeth Vogler (Nicole Cordery) se torna silenciosa e imóvel. A jovem enfermeira Alma (Janaína Suaudeau) é destacada para tratá-la. Entre delírios e as lembranças de espetáculos passados, uma estranha relação de simbiose e manipulação toma forma entre as duas personagens através do silêncio.
A atriz se isola em uma casa de praia com a enfermeira, que fica fascinada pelo seu silêncio. Alma tenta preencher o silêncio com suas próprias palavras e, sem perceber, conta toda a sua vida, seus casos, seus desejos, seus traumas. À medida que o silêncio de uma se intensifica, as palavras da outra tornam-se mais provocadoras.
Uma terceira personagem tem papel fundamental na trama. Trata-se da doutora interpretada pela atriz Clara Carvalho. “É ela quem abre e fecha a peça, e que estabelece uma ponte com o público”, conta Nicole, que já havia trabalhado com Clara no Grupo Tapa.
Nicole conta que um papel como o de Elisabeth Vogler exige um controle corporal absoluto e bem desenhado. “Qualquer respiração de Elisabeth pode transmitir um significado. Além de não falar, trabalho a imobilidade do personagem, principalmente no começo da peça”, conta. “O movimento é necessário para a passagem do tempo, e esse é o grande desafio”, completa.
O espetáculo, que junta Bergman e Strindberg, conta com a intervenção de um vídeo. Referências do texto de A Mais Forte, peça curta do dramaturgo, aparecem na tela, enquanto o roteiro do cineasta se desenrola no palco. “O que nos interessou no processo de criação do nosso espetáculo não foi reproduzir no teatro um filme, ou filmar uma peça, mas estabelecer a disputa entre quem é ‘a mais forte’ tanto no roteiro do Bergman como na peça do Strindberg”, explica Nicole.
“O que me seduz nesse projeto é tudo que está em torno do silêncio e da palavra e, sobretudo, o processo psicanalítico inserido nessa relação. Na minha direção tento tornar esse universo simbólico acessível ao público,” diz a diretora Marie Dupleix à Revista Brazuca, publicada em Paris.
Sobre o autor
Johan August Strindberg (1849 – 1912), pintor, escritor e dramaturgo sueco, é um dos mais importantes dramaturgos do século XIX, ao lado de Henrik Ibsen e Anton Tchecov. Com as suas obras em prosa e os seus dramas, foi o grande destaque do naturalismo na Suécia e, ao mesmo tempo, o precursor do expressionismo e do surrealismo no teatro universal. Em suas peças autobiográficas, recriou ainda a sua problemática pessoal: três fracassos matrimoniais, solidão e abatimento espiritual. As suas obras impregnadas pela tristeza “O Pai” (1887) e “Senhorita Júlia” (1888), assim como as peças “Páscoa” e “A Dança da Morte” (ambas de 1891), ilustram esses conflitos. “O Pelicano”, “Sonata dos Espectros”, “A Casa Queimada” e “A Tempestade” (de 1907) já assinalam o caminho para o simbolismo. Após um longo período na França, na Suíça, na Alemanha e na Dinamarca, Strindberg regressa a Estocolmo em 1899, onde funda, em 1907, o Teatro Íntimo. Morre em 1912, de câncer no estômago, deixando romances autobiográficos e peças teatrais, poesia, pintura e ensaios sobre os mais diversos assuntos.
Sobre Ingmar Bergman
Ingmar Bergman nasceu em 14 de julho de 1918 em Uppsala, ao norte de Estocolmo. Filho de um pastor protestante, foi educado de maneira severa e austera. Essa formação religiosa marcou seu caráter. Estudou na Universidade de Estocolmo e aprendeu a arte da direção com um grupo de teatro estudantil, levando para a tela grande obras de Strindberg e Shakespeare. Em 1976 foi viver na Alemanha, devido a problemas com o fisco sueco, e em seguida estreou O Ovo da Serpente, sobre a ascensão do Nazismo. De volta à Suécia, filmou Fanny e Alexander, uma obra sobre sua infância e sua paixão pelo espetáculo que lhe rendeu quatro Oscars. Comandante da Legião de Honra, membro da Academia de Letras da Suécia e reputado dramaturgo, Bergman revelou sua vida privada e profissional nos livros Lanterna Mágica (1987), Imagens (1993) e Crianças de Domingo (1994), adaptado para as telas por seu filho Daniel. Casado cinco vezes, Bergman teve nove filhos. Ele morreu em 2007.
Serviço
Strindbergman – Estreia dia 06 de janeiro de 2010, quarta-feira às 21 horas, no Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto.
Texto: A Mais Forte de August Strindberg e Persona de Ingmar Bergman Tradução – Diego Viana.
Com a Companhia Les Mistons – Nicole Cordery, Janaína Suaudeau e Clara Carvalho.
Direção – Marie Dupleix.
Assistente de Direção – Élodie Festal.
Cenografia, Imagens e Luz – Nicolas Simonin.
Assistente de Imagens – Florence Valéro. Figurinos – Anne Bothuon.
Assistente de Figurinos – Caroline Révillion.
Som – Arnaud Ledoux.
Objetos de Cena – Rita Carelli.
Maquiagem – Maud Baron.
Diretor de Palco – Jérôme Pratx.
Concepção Gráfica: Leonardo Miranda.
Temporada: de 06 de janeiro a 11 de fevereiro. Quartas e quintas às 21 horas. Ingressos – R$ 20,00 e R$ 10,00 (meia entrada). Censura: 14 anos.
Duração: 80 minutos.